TURBANTE NO AMAPÁ É MUITO MAIS QUE MODA, TRATA-SE DE UMA AUTO-AFIRMAÇÃO DA MULHER NEGRA.




FOTO ALIKA

Observando fotos antigas das manifestações culturais do estado do Amapá de raiz africana, pouco se vê mulheres com turbantes. Elas aparecem com lenços simples na cabeça, diferentemente do período atual em que os turbantes ganham adeptos sobremodo em mulheres, mas também e quanto de homens.

 O turbante é um elemento indumentário agregado às cabeças por identidade ancestral, no entanto, nos últimos 20 anos principalmente, eles começaram a fazer parte das roupas floridas e que compõem o vestuário das manifestações culturais cujo trilha sonora é conduzida pelo dobrar de tambores.


O turbante tem uso comum nas várias etnias de origem africana e, nas religiões afros é também uma forma de comunicação da população negra. São inúmeras as formas de amarrar o turbante que indicam a posição social dos membros de uma tribo ou o grau de autoridade. O turbante ganhou importância utilitária com a conscientização da militância feminina dos inícios dos anos 1990, antes disso a militância negra não possuía o grau de engajamento que possui hoje em dia no que diz respeito à afirmação da negritude. Desde as latas de solda para o alisamento dos cabelos, depois substituídas pela chapinha, muitos negros e negras faziam do alisamento dos fios do couro cabeludo uma forma de “branqueamento cultural”, o que demonstra ausência de conscientização política, pois muitos dos movimentos militavam sem a adequada compreensão do significado e da essência dessa militância com base na etnia e nos desdobramentos das atitudes que denotam preconceito e discriminação em relação aos negros. Essa atitude de se “branquear” gestos atitudes e partes do corpo foi aos poucos perdendo espaço na medida em que nos dos dias atuais as meninas e meninos negros têm orgulho em cultivar a “juba”, umas com tranças, outras com “fuar” mesmo (muito orgulho negro nisso), mas tudo teve início com a agregação do turbante.


As mulheres negras amapaenses se organizaram em torno de associações de mulheres como Mãe Venina do quilombo do Curiau (fundada em 16 de junho de 1997) e o Institutos de Mulheres Negras do Amapá – IMENA (fundado em 7 de maio de 2000), assumiram afirmativamente o cabelo “black power”, uma postura antes um tanto acanhada. No ano de 2006, a candidata ao senado pelo estado do Amapá Cristina Almeida, apresentou em rede nacional um turbante na composição de sua imagem de campanha e foi uma surpresa, não o fez para ditar moda e sim como forma de protesto, autoafirmação, e como forma de assumir uma identidade com base na sua etnia, uma vez que foi ela a primeira negra eleita para os parlamentos municipal e estadual Naquele momento, outras mulheres negras e até mulheres não negras se espelharam no seu gesto e na sua postura e adotaram o turbante. E o uso desse adereço se expandiu e se disseminou, ganhando um sentido de luta de todos os cidadãos que independentemente da etnia, sonharam em ver uma negra assumindo sua identidade e chegar ao senado. E para muitos ela ganhou aquela eleição na qual enfrentou um dos maiores caciques da política nacional.

Atualmente já existem oficinas e salões especializados em moda afro em Macapá e que operam para alinhamento de turbantes e o cuidado com os lindos cabelos “paiol”, numa sintonia perfeita da mulher negra emponderada que percebeu que para ter o respeito é necessário assumir a sua identidade ancestral

Palavras chaves: turbante, cultura afro, tradição

Por João Ataíde
Revisão Célio Alicio

Comentários

  1. Muito massa a matéria vem pontuada fazendo um traça do tempo da incorporação do turbante no movimento de mulheres negra obde nos referência dentro da sociedade que pensa que o turbante e um simples acessória mas que isso e uma questão de ancestralidade.

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  2. Muito boa a matéria amei. Faz um apanhado de nossa história e me fez viajar no tempo.

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