OS BASTIDORES DA FESTA DE SÃO TIAGO EM MAZAGÃO VELHO
Chegar
no dia da batalha e ver tudo funcionando como planejado é o resultado da
dedicação coletiva, muitos não imaginam do trabalho de quem fica nos bastidores
fazendo tudo funcionar como uma engrenagem, entre carros e pessoas, tudo no seu
perfeito sincronismo. São 241 anos de tradição.
A
criança já nasce em Mazagão predestinado a manter a tradição, pois em algum
momento de sua vida, ele vai fazer um papel ou figuração, seja de principal ou
de coadjuvante, Mouro ou Cristão.
Acompanhei
a festa de São Tiago em Mazagão Velho nos dias 24 e 25 de julho. Uma volta encantadora
na narrativa popular, tendo como documento historiográfico a própria cidade. Desde o baile de mascarados ao momento da batalha final entre os Mouros e
Cristãos, tudo fascinante. São muitos os momentos dos bastidores desse
relicário a serem mostrados.
Alan Baía |
Alan
Baía, figura de São Jorge desse ano (2018), se emociona ao recebe as indumentárias das
mãos da parlamentar Cristina Almeida; a mesma já faz a doação de três
indumentárias as figuras de São Tiago e São Jorge, há pelo menos 11 anos, as
lagrimas resume o sentimento de alguém que tentou por 23 Anos ser um dos
protagonista principal do maior teatro a céu aberto da Amazônia, ele que no
sorteio desse ano, foi o número 23 e lembra o tempo que sonhou com esse momento,
por isso a emoção.
Baile das mascaras 2018 |
No
baile das máscaras do dia 24, os homens vão chegando no salão todos mascarados,
muitos não se revelam e mesmo as pessoas se conhecendo, fica difícil a
identificação, isso ajuda a tornar a festa autêntica, onde não se sabe quando é
representação ou realidade. As mulheres ficam do lado de fora ou sentadas nos
cantos do salão sem envolvimento; o baile vai até o raiar do dia, sendo que vem
acontecendo ano a ano a intervenção policial encerando o baile as 4 horas da
manhã, uma questão histórica que precisa ser revista.
Existe
um envolvimento de gerações de intérpretes que interagem entorno da fé e
devoção ao santo.
O
dia 25 da grande batalha, as 6 horas da manhã os fogos anuncia a alvorada de
atores e telespectadores para participarem da missa e a procissão a São Tiago.
As figuras em frente do palco montados ficam imponentes, como figuras sendo observados, como se fossem a materialização e olhando os
atores se sentem intocáveis, emitindo um olhar de superioridade.
Jó Barreto Figura de São Tiago 2018 |
Alan Baía - figura de São Jorge 2018 |
Ao meio
dia, me chamou atenção os moradores irem aos fundos dos seus quintais para
apanharem laranjas, o cuidado ao descascarem, antecipa a passagem do bobo
velho, quando ele passa na rua é recebido com as laranjas atiradas na direção
do cavalo em disparada, e quando ele se vai, as pessoas ainda ficam promovendo
uma guerra de bagaços atirados dos ambos os lados, a maioria são conhecidos que
utilizam uns escudos feitos de tampas de lixeiros ou mesmo um papelão e tudo
vira festa na passagem do bobo velho. Ao todas eu conferir 3 passagem e imagino
como fica esse personagem.
Por
voltar das 15hs, os mascarados vão chegando numa das ruas e passam a novamente
se fantasiarem, sorrisos, conversas e muita seriedade antecipa a ida deles ao
local da grande batalha, os mascarados encenam com muito discernimento da
função. Na saída do grupo, um dos mascarados, chama a todos e recomenda algumas
coisa como: não ingerir bebidas, não tirar fotos em meio a encenação e no meio
da roda é feito uma oração grupal, ao termino da oração todos emitem um grito,
como um brado de felicidade, vale esse registro. Logo a frente aparece os
cavaleiros de vermelho, cavalgam por entre os mascarados onde tiros são dados.
Passa
um cavaleiro de branco com uma bandeira vermelha e de longe o narrador agita a
plateia, é o início da grande batalha entre mouros e cristãos.
O
vai e vem da cidade é frenético, dois mundos: de um lado os figurantes e
coordenadores nos preparativos, costurando um botão ou dando água ao cavalo, o
transporte de indumentárias e espadas sendo polidas com zelo, tudo é valido. De
outro lado as pessoas transitam, uns em busca de folia, outros querendo saber
como as coisas ocorrem ou na busca da melhor foto dos atos exibidos.
O
jovem já nasce em Mazagão predestinado a manter a tradição, e em algum momento
de sua vida ele vai fazer um papel ou figurante, seja de principal ou de
coadjuvante, mouro ou cristão.
Uma
história repetida em que todos conhece o final, na cabeça de cada participante
vale o empenho no papel ao qual foi escolhido, e isso mexe com toda a família,
o cuidado dos fieis com as figuras abanando, dando água, pois o calor é
escaldante.
Eu
nem me atrevo a descrever outra ótica dessa festa, pois acompanho e tenho
respeito por quem já faz isso faz tempo, como é o caso de Gabriel Penha,
fotografo, jornalista e morador de Mazagão que divulga e registra passo a passo
dessa história como ninguém. Esse relato é um olhar de quem observa de fora,
uma impressão positiva da continuidade dona de uma tradição que mexe como
imaginário de visitantes e do povo de Mazagão Velho.
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