Tem ruído na comunicação entre o movimento negro



De início o colonizador tentou ignorar a existência dos quilombos, e vale aquela velha questão batida desde Abdias Nascimento até Laura Oliveira: “Por onde passou a escravidão existiu a resistência”. Agora cabe-nos ter a sensatez de visualizar como essa resistência se deu; pois é sabido que os quilombos ficavam longe do alcance, nos lugares mais inóspitos e inimagináveis.

Enquanto o colonizador desqualificava chamando de terras de pretos já se desenvolvia uma formação social, onde se tratava de uma "república" que assustava o poder escravocrata; mocambos, canhambolas, ate se chegar a quilombo foi um longo caminho.

Plantavam, criavam, isso tudo numa pequena quantidade de terras, la não se morria por doenças que na cidade dizimava, pois o negro enterrava a fezes, enquanto que na cidade do homem colonizador quem coletava as fezes e jogava no mar era os negros que se aproveitava para passar por entre as senzalas e sempre tinha algo a dizer, quando o capitão do mato o via, ainda dizia – “olha esse negro que até para juntar merda canta e dança!”- 
percebe-se nesse ato que ignorava o negro e esse se valia de todo momento para comunicar.

Laura Oliveira em seu livro - Quilombo Identidade e história, descreve uma forma de resistência baseada na solidariedade horizontal entre os escravizados negros livres e quilombolas. Os laços culturais os identificava, tanto dentro da senzala quanto nas ruas: jejes, nagôs, benguelas, nesse sentido o estado colonial supõe aniquilar a cultura africana e ela sobrevive nos mesmos moldes.

Nas rodas de terreiros se cantava musicas parecidas com prantos e dor e o colonizador dizia – “deixa essas pobres criaturas chorarem”. Nessas rodas frequentavam: os de ganhos, os que juntavam merda, os que treinavam a dança, os capoeiras; vale uma lembrança – o canto e a dança, foi uma iniciativa do próprio colonizador, isso ajudava a desentorpecer a dor do banzo; então, essas festas ou roda de tambor eram permitidas, contanto sempre vigiadas, acontece que nos cantos e danças o povo negro se comunicava.


Como se sabe os quilombos foram se constituindo nas margem e longe da cidade, muitos distantes um dos outros em sua grande maioria nômades. - lembra das figuras: negro de ganhos, capoeiras, tigres (os que juntavam merda, "tigres” e os seus condutores, de “tigreiros”)  "Quando o tonel já estava quase transbordando, recorria-se ao “préstimo” do escravo! Era sobre as cabeças deles que o peso das barricas era conduzido para ser despejado na “beira” das marés. Em seguida, os carregadores retornavam com os recipientes vazios para receber nova carga" as rodas dos terreiros, a ama de leite, os negros alforriados, os mulatos, os morenos, os pretos, os negros? Poise, quando transitavam, entre eles se estabelecia uma comunicação. 
negro tigre

Por conta dessa comunicação os quilombos foram levados a serio, metendo medo na estrutura escravista, isso mesmo, quando se deram conta dessa esperteza dos negros, passaram a combater e considerar a existência dos quilombos; não tenho nesse texto uma ordem cronológica e detalhe do que descrevo, o que me dói é chegar numa casa de terreiro e ver a imagem de Santo Antônio, a maioria ou grande parte não sabe que ele foi um capitão do mato, esse eu conto noutro momento.

Quando me refiro a ruídos na comunicação do movimento é porque nos dias de hoje, o movimento negro ignora a forma de comunicação deixada pelos ancestrais. Permanece o que já falei antes: "o colonizador jogou etnias diferentes no mesmo lugar para que esses, não se entendessem e esses ancestrais se comunicaram visualizando que a união seria a única saída para liberdade.

O ruido está justamente nesse sentido, pois ainda há entre nós do movimento negros os que desconsideram a luta do outro, fica parecendo que estamos ainda a serviço de um colonizador, crucificamos e detonamos aquele irmão de cor que se destaca, a caso ainda não visualizaram que a acessão de um é a acessão de todos?

Então vamos tirar o ruído de nossa comunicação; o não gostar da pessoa é plenamente aceitável, agora a luta é de todos nós “negros”. 

"Quando um cai, cai todos nós".

Palavras chaves: identidade, comunicação, quilombola, Amapá.

Dados bibliográfico, Souza, Laura Oliveira Carneiro de; Quilombos: identidade e historia, 1 ed – Rio de Janeiro: nova Fronteira, 2012.

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