Tema Polêmico. Principalmente aos ingnorantes.
Falando
sobre as reservas de vagas (cotas), para negros, vou me fazer valer
de um artigo * Mário Henrique da Luz do Prado
que sintetiza exatamente o que penso e, não poderia escrever da forma
esclarecedora como desse artigo.
Quotas raciais: princípio da igualdade, contextualização histórica do indivíduo
Fonte:http://www.migalhas.com.br
Um
dos temas de maior polêmica na atualidade é o que envolve as
políticas afirmativas raciais. A problemática de interpretação
pela sociedade destas medidas, como derradeiro, decorre dos
preconceitos enraizados, das más educação e informação, bem como
de pessoas desavisadas que tentam ser formadores de opinião em meios
de massa, e acabam por reforçar o malfadado senso comum.
Por
primeiro, é certo que a questão das políticas afirmativas nasce de
uma necessidade de o Estado agir positivamente para com a sociedade,
trazendo, de certa forma, e na medida do possível, a igualdade.
A
não receptividade por grande parte das pessoas nasce de uma
interpretação errônea do princípio constitucional da igualdade:
se todos são iguais perante a lei, por que alguns merecem tratamento
diferenciado?
Pois
que a correta interpretação do princípio da igualdade não é tão
simples. Para a lei, a igualdade não é formal, e sim material.
Explica-se: pelo princípio da igualdade, devem ser tratados, de
forma igual, aqueles que são iguais, e devem ser tratados de forma
não igual, aqueles que não são iguais.
E
por um acaso somos todos iguais? Não, não somos. Se a lei tratasse
todos de forma igual, sem distinção entre um ou outro, estaria
atropelando as individualidades que são inerentes ao ser humano.
Pois
que o Estado, vendo isto, lançou uma forma de criar distinções,
para privilegiar aqueles que estão em condição desfavorecida, para
trazer estes à igualdade com os demais.
O
condão da recepção não positiva da sociedade para com as cotas é
que esta forma de criar distinções (as cotas) foi feita para
grupos, e a sociedade enxerga as pessoas beneficiárias destas
políticas de inclusão social como seres individualizados, e não
contextualizados.
Muitas
vezes (infelizmente) ouvi comentários como estes: “mas as cotas
para negros são um preconceito! Por que os negros tem menos
capacidade? Eles não são como nós? Estas cotas sim é que são
preconceituosas!”.
Tais
comentários, que são bem numerosos, demonstram aquilo que já foi
dito, que a sociedade (pelo menos aqueles que tecem tais comentários)
enxerga o negro, e todos aqueles que seriam beneficiários destas
cotas, de forma individualizada. Enxerga ele como pessoa, somente, em
suas capacidades individuais, como inteligência, formação
cultural, capacidade individual para o trabalho, etc. Como
indivíduos, podem ser como todos, mas dentro de seu grupo e de seu
contexto, não. Todos sabem (embora muitos prefiram não ver), que
estas minorias têm menor acesso às boas escolas, às boas
bibliotecas, enfim, aos meios de formação intelectual e muitas
vezes, ao convívio social que lhe proporcione as mesmas
oportunidades. A inclusão não é do indivíduo, analisado de forma
isolada, mas do grupo.
As
pessoas enxergam o negro, e todos aqueles que seriam beneficiários
destas cotas, como seres individuais.
Mas
as cotas são para indivíduos contextualizados, em seus grupos. A
análise deve ser feita de acordo com o contexto histórico-social
destes grupos.
A
lei não está querendo fazer pressupor que os índios, ou negros,
individualmente, tem menos capacidade cognitiva para estarem cursando
uma universidade. O que a lei procura é corrigir uma separação
social que é decorrente de um modelo histórico de preconceitos. E
faz isso analisando o contexto histórico social.
Como
dissemos, as cotas são para grupos sociais, e não para indivíduos.
As cotas para negros ou índios não são por estas pessoas não
terem capacidade de estar numa universidade, mas são uma forma de
tentar corrigir um preconceito que existe contra o grupo social, não
contra o indivíduo.
Mas
as pessoas, novamente, com seus preconceitos com que preferem
caminhar de mãos dadas, passaram a enxergar de forma pejorativa as
cotas raciais, por enxergar as cotas como um modelo de rotulação da
incapacidade individual, ao invés de enxergar como a celebração de
inclusão de um grupo social.
__________* Henrique da Luz do Prado é advogado do escritório JBM Advogados
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