Quem é Angela Davis?
Angela
Yvonne Davis
(Birmingham,
26 de janeiro
de 1944) é uma
professora e
filósofa
socialista
estado-unidense
que alcançou notoriedade mundial na década
de 1970 como integrante do Partido
Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras
Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra
a discriminação social e racial nos Estados
Unidos e por ser personagem
de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente
história
dos Estados Unidos.
Angela
nasceu no estado do Alabama,
um dos mais racistas do sul
dos Estados Unidos e desde cedo conviveu com humilhações de cunho
racial em sua cidade. Leitora voraz quando criança, aos 14 anos
participou de um intercâmbio
colegial que oferecia bolsas de estudo para estudantes negros
sulistas em escolas integradas do norte
do país, o que a levou a estudar no Greenwich
Village, em Nova
Iorque, onde travou conhecimento com o comunismo
e o socialismo
teórico, sendo recrutada para uma organização comunista de jovens
estudantes.
Na década
de 1960, Angela tornou-se militante do partido e participante ativa
dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade
norte-americana da época, primeiro como filiada da SNCC de Stokely
Carmichael e depois de movimentos e organizações políticas
como o Black
Power e os Panteras Negras.
Notoriedade e prisão
Em 18
de agosto de 1970,
Angela Davis tornou-se a terceira mulher a integrar a Lista
dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI, ao ser acusada de
conspiração,
sequestro e
homicídio,
por causa de uma suposta ligação sua com uma tentativa de fuga do
tribunal do
Palácio de Justiça do Condado
de Marin, em São
Francisco.
Durante o
verão daquele ano, Angela estava envolvida nos esforços dos
Panteras Negras para conquistar a apoio da sociedade a três
militantes presos, George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette,
conhecidos como os “Irmãos Soledad”, por terem sido aprisionados
na Prisão de Soledad, em Monterey.
No dia 7
de agosto, Jonathan Jackson, o irmão de 17 anos de George, em
companhia de dois outros rapazes, interrompeu de armas na mão um
julgamento num
tribunal na tentativa de ajudar a fuga do réu do caso que estava
sendo julgado, o amigo James McClain, acusado de ter esfaqueado um
policial. Jonathan e seus amigos se levantaram do meio da assistência
na sala do júri
e renderam todos no recinto, conduzindo o juiz,
o promotor e vários jurados para uma van
estacionada do lado de fora. Ao entrar na van, Jackson gritou que
queria os “Irmãos Soledad soltos até o meio dia e meia em troca
da vida dos reféns”.
No tiroteio
que se seguiu com a perseguição policial ao grupo, Jonathan e um
amigo foram mortos pela polícia, não sem antes matarem o juiz
Harold Haley com um tiro
na garganta e o
promotor raptado ficou paralítico com um tiro da polícia. As
investigações que se seguiram identificaram a arma de Jonathan como
registrada em nome de Angela Davis.
Manifestação
em Boston pela libertação de Angela Davis, 1970.
Com sua
prisão decretada pelo estado da Califórnia
e o FBI em seu
encalço, Angela fugiu do estado e desapareceu por dois meses, sendo
alvo de uma das maiores caçadas humanas do país na época,
acompanhada dia a dia pela mídia,
até ser presa em Nova Iorque em outubro. O julgamento
de dezoito meses que se seguiu, colocou uma mulher negra, jovem,
culta, assessorada por uma equipe brilhante de advogados,
no centro das atenções da imprensa
num paralelo que só seria igualado décadas
depois pelo julgamento de O.
J. Simpson. Nos longos debates na corte, não apenas o caso
criminal envolvido veio à tona, mas uma grande discussão sobre a
condição negra na sociedade norte-americana foi travada.
Manifestações diárias por sua libertação e absolvição ocorriam
do lado de fora do tribunal e por todo o país, transmitidos ao vivo
pela televisão.
Dezoito
meses após o início do julgamento, Angela foi inocentada de todas
as acusações e libertada. John
Lennon e Yoko
Ono lançaram a música
Angela
em sua homenagem e os Rolling
Stones gravaram Sweet
Black Angel, cuja
letra falava de seus problemas legais e pedia sua libertação.
Celebridade e liberdade
Finalmente
livre, Angela foi temporariamente para Cuba,
seguindo os passos de seus amigos,os ativistas
radicais Huey
Newton e Stokely
Carmichael. Sua recepção na ilha
pelos negros cubanos num comício de massa foi tão entusiástica que
ela mal pôde discursar. De acordo com Carlos Moore, um escritor
bastante crítico das relações raciais na Cuba comunista, sua
visita ao país causou grande impacto entre a população
negra num tempo em que expressões de identidade
racial eram bem raras em Cuba. Suas credenciais revolucionárias
permitiram aos nativos se identificarem de público com seus
pensamentos, sem medo de serem taxados de contrarrevolucionários
pelo governo
cubano.
Em 1975,
a militante socialista envolveu-se em novo embate polêmico, quando
em discurso contra ela o dissidente russo
Aleksandr
Solzhenitsyn, em Nova Iorque, acusou-a de hipocrisia
por sua simpatia para com a União
Soviética, já que omitia as condições dos presos políticos
sob regime comunista. Em sua crítica, Solzhenitsyn mencionava carta
de presos políticos checos
endereçada a Angela, na qual pediam socorro, esperando que sua
condição de celebridade comunista contribuísse para livrá-los da
perseguição do Estado,
e que denunciasse as duras condições de sobrevivência na cadeia.
Os missivistas diziam-se vítimas da mesma injustiça que a própria
Angela sofrera antes deles, pois também não tinham culpa, mas
estavam presos. A resposta de Angela: “Eles merecem o que tiveram,
que continuem na prisão!”, repercutiu muito na mídia da época.
Posteridade
Angela
Davis candidatou-se a vice-presidente
dos Estados Unidos em 1980
e 1984 como companha
de chapa de Gus
Hall, presidente do Partido Comunista Americano, tendo votação
irrisória. Continuou sua carreira de ativista política e escreveu
diversos livros, principalmente sobre as condições carcerárias no
país.
Não se
considera uma reformista prisional, mas uma abolicionista.
Em suas palestras, refere-se sempre ao sistema carcerário dos
Estados Unidos como a um complexo industrial de prisões; advoga como
solução para o problema a extinção do cumprimento de penas em
presídios. Apontando a maioria de negros e latinos entre os
presidiários do país, atribui a causa disso à origem de classe e
raça dos apenados.
Nos últimos
anos, continua a proferir discursos
e palestras,
principalmente em ambientes universitários
e se mantém como uma figura proeminente na luta pela abolição da
pena de morte
na Califórnia. Em 1977-1978
foi-lhe atribuído o Prêmio
Lênin da Paz.
fonte: https://pt.wikipedia.org
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