Chamado a todas as organizações do povo negro do Estado do Amapá para se juntarem a essa luta em defesa dos nossos direitos.
A
lei 12.990/2014 que prevê reserva 20% das vagas de concursos para
negros/as foi objeto de amplo debate na sociedade brasileira, até
que o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar sua
constitucionalidade. Ainda que a matéria apreciada no Supremo, a
partir do pedido feito pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil, já esteja pacificada na esfera jurídica, pois próprio
relator da matéria, ministro Luís Roberto Barroso, lembrou que a
decisão da Corte seria: “a salvaguarda jurídica caso estados e
municípios queiram adotar a regra”, muitas, ainda, são as
resistências sociais em relação a esse dispositivo legal.
Foi
nesse contexto do debate nacional, que a Assembleia Legislativa do
Amapá – ALAP aprovou, em novembro de 2015, o projeto de lei de
autoria da deputada Cristina Almeida que reserva a cota de 20% das
vagas em concursos públicos estaduais para pessoas autodeclaradas
negras.
A
aprovação do projeto foi motivo de muita comemoração entre as
organizações dos movimentos sociais negros em vista da adoção, na
esfera estadual, de instrumentos para a correção de injustiças,
combate ao racismo e garantia de acesso à população negra,
historicamente excluída de desfrutar dos bens coletivamente
produzidos pela sociedade.
Tal
foi a supressa quando da divulgação, pelo Governo do Estado do
Amapá, do edital n° 001/2017 que estabelece as regras do concurso
público para provimento de 300 vagas para a função de Soldado do
Quadro de Praças Policiais Militares Combatentes da Polícia Militar
do Amapá, no dia 06/08/2017, quando constatou-se que no referido
edital não contempla o estabelecido na Lei nº 1.959/2015.
Destaque para o quadro que ornamenta a sala do Dr. |
O
fato motivou o Dr. Paulo Celso Ramos, titular da Promotoria dos
Direitos Constitucionais do Ministério Público do Estado do Amapá
- MPAP, a ingressar com Ação Civil Pública com pedido de tutela de
urgência, junto à Vara Cível e de Fazenda Pública, com vista a
garantir a reserva de vagas para pessoas com deficiência e população
negra. A juíza Liége Gomes negou o pedido do Ministério Público
que, imediatamente, recorreu da decisão.
Os
movimentos sociais negros desencadearam um processo de mobilização
e luta pelo cumprimento da legislação e, sobretudo, para articular
ações políticas voltadas ao enfrentamento do racismo em nosso
estado, onde 68% da população é autodeclarada negra.
Na
plenária realizada terça-feira 08/08/2017, estiveram presentes
representantes do Conselho Municipal de Politicas de Igualdade
Racial- COMIGUALDADE, OAB-AP, Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania
da Unifap, Nação Marabaixeira, Capoeira Mestiçagem, Conselho
Municipal de Politicas para as Mulheres - CMPPM, Núcleo de Estudos
Afrobrasileiros - NEAB/Unifap, Centro Cultural Maracá, Gabinete da
Deputada Cristina Almeida com o objetivo de dialogar sobre essa
questão e estabelecer estratégias de luta para a garantia dos
direitos do povo negro, consagrados em Lei.
No
curso da reunião os/as participantes chamaram atenção para o fato
da decisão da juíza destacar o expresso o reconhecimento da
legalidade do sistema de cotas, porém não há reconhecimento da
existência lei estadual que defina a participação dos grupos em
concursos públicos, fora do espaço da Assembleia Legislativa
Estadual. Essa interpretação é restritiva, pois compromete a
garantia da reserva de vagas nos cursos que estão em processo de
preparação, tais como Polícia Civil, Procuradoria Geral do Estado
e Defensoria Pública.
Sendo
assim, estamos diante de uma batalha que precisa ser travada em duas
frentes: em âmbito jurídico e política, aí a importância das
organizações do movimento negro se habilitarem no processo para dar
visibilidade à questão e, também, desencadear amplo dialogo com a
sociedade para explicitar que defendemos a realização dos concursos
públicos. Contudo, é fundamental que os mesmos sejam conduzidos com
respeito à legislação.
Fica
aqui o chamado a todas as organizações do povo negro do Estado do
Amapá para se juntarem a essa luta em defesa dos nossos direitos.
Texto Alzira Nogueira.
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