Não fui eu quem escreveu a história eu só tento entender, muitos são devotos sem conhecer o contexto.





fonte da pesquisa: https://cem.revues.org/8632
 foto Marco Antônio Corrêa Mota

"Essa imagem de branco no cavalo sobrepujando um preto ... certas pessoas precisam acordar por lá pelo Marrocos do Amapá. . escravidão mental é muito escroto" frase de um leitor do blog.


Não foi eu quem escreveu a história e nem sou eu quem vai mudar, de fato essa história é lembrada a 240 anos em Mazagão Velho.  Em resposta ao Meu parceiro Marco Antônio Corrêa Mota, eu tenho o meu lado e posição, tenho conhecimento do ocorrido dessa história, mas apresento ai um pouco de como isso chegou em plena amazônia, justamente na inversão dos valores quanto a figura de “São Tiago”, feito pelo próprio colonizador.

A devoção a Santiago revela-nos um dado fundamental no processo de transplantação cultural aqui examinado. Se, de um lado, os conquistadores e colonizadores continuavam a se identificar com os heróis cristãos medievais, por outro lado, projetaram nos índios a imagem de seu inimigo tradicional, os mouros. 
As crônicas luso-espanholas do período estão permeadas de passagens em que se pode verificar essa projeção. O já mencionado Bernal Diaz de Castillo, em sua Historia Verdadera, não hesitava em designar os povos do império asteca com o qualificativo de « povo morisco ». Também os primeiros textos relativos à conquista do Peru fantasiavam a região e as populações andinas, associando os incas aos judeus e aos mouros, como se pode observar desde o prólogo da crônica de Agustin de Zárate, a Historia del Descubrimiento y Conquista del Perú.

A partir daí, infere-se que o europeu, em face de uma realidade estranha, sem ainda dominar os códigos culturais necessários para compreendê-la, valeu-se do referencial conhecido para expressar a alteridade. Mas ao problema da tomada de consciência da alteridade consubstanciada nas culturas indígenas, há que se colocar a questão da assimilação negativa pela via da associação com o « outro » já conhecido : o inimigo islâmico. Tal problema não se restringe ao primeiro século de contato. Parece-nos que além do desconhecimento da diferença cultural, havia certa predisposição para a rejeição do estranho em todos os níveis, inclusive no âmbito da representação. Também no Novo México, ainda no século XIX as encenações dos Moros y cristianos continuavam a servir de modelo para a dramatização das lutas entre europeus e nativos. É o que se pode perceber na configuração da peça teatral Los comanches, escrita no Novo México em 1834 e que se refere a uma batalha entre colonizadores e indígenas, ocorrida em 1774, onde a narrativa e representação do conflito seguem de perto o tema folclórico do conflito entre cristãos e mouros.


No que respeita ao domínio português, a obra de catequização jesuítica põe em relevo traços da associação dos « demônios » indígenas ao tradicional panteão das divindades greco-romanas, mas também aos « monstros » e mouros . Os empreendimentos bélicos contra as tribos tupis do litoral no século XVI assumiram o caráter da « guerra justa » medieval. A própria origem do vocábulo utilizado para designar os mestiços de brancos e índias, « mameluco », que no século XVI era grafado mamaluco, resulta de curiosa adaptação da palavra árabe Mamluk, termo que designava a famosa dinastia de guerreiros turcos que governou o Egito entre do século XIII ao XV.
 
É certo que a referida associação persistiu nos testemunhos histórico-culturais latino-americanos em todo o período colonial. Os registros iconográficos relativos aos séculos XVI e XVIII mostram-nos a intervenção miraculosa de Nossa Senhora de Copacabana e de Santiago em favor dos espanhóis na conquista do Peru. No mesmo local, os autos teatrais jesuíticos eram antecedidos pela representação da « diablada », encenada por indígenas . Nas pinturas das igrejas mexicanas, a imagem convencional de Santiago Matamoros – o santo montado em cavalo branco esmagando os inimigos muçulmanos – foi lentamente substituída pela imagem de Santiago Mataíndios – sendo o inimigo substituído e, por vezes, o santo recebendo as feições de Hernan Cortez. Ao mesmo tempo, nos autos sacramentais barrocos, Carlos Magno é representado na Cruz – associação evidente com o martírio de Cristo.

Por João Ataíde, pesquisa feita ao artigo de - Mouros e cristãos : a ritualização da conquista no velho e no Novo Mundo, por José Rivair Macedo,(https://cem.revues.org/8632)

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