UMA FASE DO HIP HOP NO AMAPÁ, QUANDO SE CHAMAVA APENAS BREACK




A velha guarda do BREAK DANCE amapaense depois de 20 anos se reencontraram novamente, neste domingo, 04/03/2012 — com Josiel Torpedo, NALDO B.BOY, Aminadab Brito, Joao Ataidé, B.Boy Ligeirinho e Ademir B.Boy Bili
                                        
Boates em Macapá
As tertúlias tinham hora pra começar e acabar. As festas aconteciam aos domingos das 19:00 as 22:00: Star clube, circulo militar, Amapá clube, Macapá esporte clube, Trem Desportivo Clube, Flagras, Baby doll e quase no final desse fenômeno o Babilônia. No entanto, a que eu, mas vivi foi no star Clube e Trem Desportivo Clube e é, por onde relatarei o cenário do break dos Demônios do Break.
A juventude e as drogas,
Infelizmente, num mundo de liberdade, existem os dois caminhos a ser seguido e muitos escolheram as drogas. Quando andava na noite, viam muitos dos “moleques” fumando um baseado, puxando um “bec”, o “fumacer” tomava conta antes da entrada das tertúlias, o que muito eu via era a maconha mesmo,   

Como surgiu o DB
Quando frequentava as tertúlias; que por significado do dicionário português é reunião de família, agrupamento de amigos, assembleia literária, logo esses significados ganhariam outros contextos. 
foto publica Internet
O ano era 1990, sempre via um rapaz branco que de moletom em pleno verão, dançava Break, enquanto os jovens da época dançavam passes marcados, estilo Os Embalos de Sábado à Noite, só ele dançava o Break; eu particularmente ensaiava uns passes, andava só, e sempre encontrava com amigos de escola, nos reuníamos e trocávamos alguns passos e não passava disso. Só que eu não sabia que igual a  mim, também tinham outros jovens espalhados pela cidade que gostavam de dançar o break e compartilhavam dos mesmos eventos que eu; respeitando as proporções é claro.
Meus tempos de breack
Sei que cada um tem uma ótica a cerca desse assunto, se conseguisse chegar a cada um deles certamente teria muitos pontos a ser relatado, aqui, eu falarei do meu entusiasmo de ter feito parte do momento, muitos irão criticar, muitos irão contestar, enfim, alguém tem de dar o primeiro passo.
No dia de natal de 89/90, como não tinha grana; alias isso era coisa muito rara, sai com um amigo meu chamado de Preto, atravessamos a cidade para assistir um filme, passamos da zona norte para zona sul, nem sabíamos que filme era, chegamos ao cine Veneza ficava no canto da Jovino Dino ar com o Feliciano coelho no Bairro do Trem. Ficamos “abeirando”, e logo o porteiro disse que era pra nós entrar. Aquilo pra mim foi uma emoção tão grande; entrar num cinema, por si só já era emoção muito forte tinha eu 15 anos, vai vendo. 

Passava um filme de dança, aquele filme desperta em mim um sentimento de liberdade. Quando o filme acabou, saí eu e o Preto; do trem ao pacoval eu vim tentando executar os passos que vi. Assim, daí em diante os colegas dançavam passes marcados e eu dançava break; agora quando via o Aminadab eu parava.
No Star Clube ficava tudo dividido; em cada canto, ficava uma galera: no canto perto dos banheiros ficava a galera barra pesada do Laguinho – Betinho, Quinino, Jackson, Pierre; eu tinha acesso a eles por serem negros como eu. No lado direito perto do bar ficava a galera barra pesada branca; os que tinham grana e já cheiravam umas paradas que nem sabia o que era (só sei que era um pó branco). Eu ficava bem do lado direito de quem entrava na sede, ali onde ficava os pirangueiros e lisos, ponto estratégico, caso houvesse uma “porrada” logo chegava a porta da rua. No centro do salão era a pista de dança, ali quem mandava era o “Aminadab e o Rômulo (camarão)”. 
foto arquivo pessoal de Aminadab: da esquerda para direita, Amina e Romulo ladeado, Rato, saudoso Maurício.
 O Aminadab e o Rômulo; brancos e bonitos, quando começavam a dançar pegavam todas as meninas da festa; vou confessar uma coisa, era fã do cara e nunca imaginava que fossemos nos tornar grandes amigos.
As musicas que tocavam no Star clube variavam dos hits a musicas românticas, então tinha a hora de suar e, a hora de se “armar”, vocês sabem do que to falando, era a hora de pegar as meninas; foi no Star que dei o meu primeiro beijo. Não tinham musicas pra dançar o break, então dançávamos com as que tinham. Depois de três anos frequentando o Star clube, num determinado dia aconteceu um fato que mudaria o cotidiano parado daquela sede; a partir daquele momento todos os mundos iriam interagir - literalmente.

Campo do ASA Aberta

Foi num domingo de 1993 por volta das 14:00 horas da tarde, que eu estava sobre o muro do Centro Urbano ASA Aberta, que veio ate mim um certo rapaz que era o Ademir. Recém chegado em Macapá vindo do maranhão, falando com um sotaque engraçado, usando roupas engraçadas; um tipo estranho. Quem o trouxe ate mim foi um amigo em comum, chamado de Cléber.
- é tu que é o Jão?
Como fiquei “cabreiro” não respondia.
- outra vez a pergunta, tu que é o Jão?
Ai o Cleber apresentou.
– esse aqui é o Ademir que dança break, opa! Falou a senha para uma grande amizade,
- aonde tem um lugar pra gente dança aqui?
- mano no Star clube é o lugar, vamos lá hoje, antes de dizer que não tinha grana ele já disse
– eu pago a tua; Mano daí em diante já ficamos grandes amigos. Passamos a falar de dança, como as coisas aconteciam e quem mandava, falei do Aminadab a ele, acertamos a nos encontrar no canto da escola as 18:30.
- Fiquei ansioso e já sabia que naquele dia seria diferente, pois bem. Na hora marcada quando vejo La vem o cara,
- disse meu Deus! O mano estava parecendo um dançarino saído do mais autêntico break dance, confesso que fiquei impactado!!!.
Como ficava perto; o que não faria diferença se fosse longe, logo chegamos ao star clube, o levei pro nosso canto cativo e ali começamos a dançar, nesse momento todos os olhares estavam direcionados ao Demir e eu fui na onda.
- O Aminadab, parecia estrela chegava entre as 20:00 hs as 20:30, no momento em que a tertúlia tava pegando fogo. Já sabia de tanto acompanhar o vai e vem da danceteria. Quando começou as musicas românticas, sentamos num banco que ficavam encostados nas paredes e, muitos outros chegaram ate nós, nos parabenizando pela dança que acabara de ver. Ao termino da musica romântica, o DJ manda as melhores musicas da época pra dançar, de longe eu vir o Amina eu disse.


– Demir é aquele de moletom azul, assim, saímos na direção do cara – da forma em que nos dirigimos ao centro do salão, logo chamou atenção e muitos acharam que bateríamos no amina. O amina e o Rômulo estavam acostumados a dar show, não contavam que naquele dia o reinado ia acabar.
- O Demir se dirigiu à amina; que logo tomou um susto com o visual do maranhense, como eu não podia deixar o novo amigo só mandei o que sabia ate aquele momento, de verdade, abriu-se uma roda e eu, Ademir, Aminadab logo éramos o centro da atenção; o Rômulo ficou com medo e ficou na roda só enquanto não tinha percebido nossa presença. Pra minha surpresa imaginava que o Amina ia bater de frente. Quando vem novamente as musicas romântica, voltamos para o nosso canto como se tivéssemos ganhado um campeonato, eis que sai da sua zona de conforto e invade o gueto dos “lisos”, e sem cerimônia estende a mão Amim e ao Ademir e nos convida a comparecer, noutro dia na sua casa; ali começou uma longa e ate hoje uma linda amizade.  
Minha indagação à Amina!
–A amina o que tu sentiu quando fomos ate você?
– bode (como passamos a nos tratar), eu já procurava a muito tempo alguém pra dançar comigo, aonde eu sabia que tinha alguém eu ia,
- eu percebi quando vocês vinham na minha direção, quando tu chegaste e me apresentou o Ademir e passamos a dançar fiquei feliz.
– pra ver só! Fazia mau juízo do Amina, imaginava que era "burguês" e quando passamos a nos conhecer vimos que a única diferença é que eu sou negro e ele branco. Com o tempo, eu fui praticamente adotado pela dona Angelina (mãe do amina), passava mais tempo na casa dele que na minha.
Quando se abria a roda, tinham os seguranças que muito maus informados desde o primeiro momento combatiam as rodas de break, e dali em diante sempre que se abriam uma, os caras vinham pra querer acabar, também tivemos que aprender a ser fortes e duros; vocês sabem do que to falando! Nas rodas se encontravam todos os mundos que entrelaçavam na danceteria, pois ate então, as pessoas dançavam na sua zona de conforto, alguns passes marcados, era assim.
A ultima roda de breack de minha geração no Star clube
Essa euforia passou, diante de muitas brigas e tretas, drogas; eu particularmente fui perdendo o gosto, já tinha um envolvimento com o samba, minhas amizades continuaram as mesmas das rodas de breack.
Teve um domingo em que a roda se abriu, todos os mundos se encontraram literalmente, lembra da galera do basquete, da igreja? Pois é, estavam nessa roda, o Seco o Helder (DT), Marquinhos (eletro), Sandro solo, Robson (soneca), todos estavam La, sem briga, aquele dia pra mim ficou na minha retina, pois tomei dimensão do que tínhamos feitos em dez (10) anos. Tinha tanta gente dançando breack que mesmo os seguranças se envolveram e ajudaram a abri-la. 
Ao fim da noite fazíamos o caminho de volta e ficou aquele vazio, muitos continuaram, fui em busca de outros caminhos, principalmente estudar. Acontece que quando o Star clube tinha as suas dimensões menores, parecendo um caldeirão, parecia que sempre tinha muita gente, esse Star clube foi ao chão e se ergueu uma nova sede, quando foi na reinauguração que entrei no recinto fui tocado por um sentimento de perda, meio nostálgico, mas foi assim, dali em diante o Star nunca mais foi à mesma coisa para mim, passaram ter shows nacionais e com toda certeza outros tiveram o mesmo sentimento, pois as tertúlias acabaram e eu me afastei de vez do breack. 

#breackamapa

Comentários

  1. Cara meu amigo, viajei no tempo e me fez muito bem lembrar esse tempo!! Todas as amizades que surgiram! Vc em especial se tornou um irmão mais novo que eu não tinha! Parabéns por sua iniciativa!! Tenho certeza que ainda vamos ver isso tudo em um lindo livro!

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  2. Muito firme! Sou produtor Audiovisual com foco no rap em Macapá. Lendo essas histórias eu imaginei não so o livro como o Aminadab falou,mas também um documentário.

    Seria interessante que vocês falassem em vídeo a respeito dessa época.

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    1. esse texto é parte de um livro todo voltado para esse período que vivemos que não voltam mais.vamos conversar e passo o restante para fazer. 991671040 meu contato.

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  3. Muito massa! Sou discípulo do josiel (jojo) e Billy (Ademir) conheço um pouco da história e tenho total admiração, de fato dá para ter noção do que foi o breaking naquela época sempre tive vontade de conhecer a todos os que estão vivos e que fizeram parte dessa história, pra mim seria uma honra sem dúvidas. Dou graças a Deus pelos meus professores de breaking porque tudo o que eles viveram e passaram de ruim naquela época, me ensinaram a não cometer os mesmos erros. Parabéns a todos.

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    1. fico feliz em relembrar um pouco do que vivemos, tamus juntos

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