ROLDÃO E O CURIAU DE SUAS LEMBRANÇAS





Roldão e o Curiau de suas lembranças


Roldão Amâncio da Silva ou simplesmente seu Roldão, nascido no dia 08/04 de 1935, filho de Cecílio Euclides da Silva e Venina Antônia da Silva, é o terceiro de 8 (oito) irmãos, hoje apenas os irmãos João, Francisco, Rozilda, Zé Antônio, e Raimundo, 3 já são falecidos. Aos seus 82 anos ver o desenvolvimento da comunidade da porta de sua casa.

Ele segue a mesma forma de conversa da maioria dos da sua idade, fala de um passado que valia apena viver, um linguajar próprio que revela certas frases, muito presente ainda na comunidade de criaú/curiau.

Atencioso e reflexivo se mostra, como a maioria contemporânea nos rumos que o quilombo está indo. Negro sereno e pensativo nas palavras, tem na sabedoria o seu jeito de bem viver, vamos conhecer Roldão.

Roldão foi líder comunitário de 1958 a 1994, fala que a única vez que foi preso ou detido foi em 1945, o mesmo estava numa festa no bairro do laguinho na casa de Paulino Ramos e que um policial o revistou e ele estava portando uma faca, dessa forma, foi convidado a entrar no famoso violino (a viatura da polícia que era conhecida assim), o engraçado dessa história é que quem estava dando uma de advogado foi o popular e folclórico do bairro Paulino Ramos (pense).

Sentei para escutar suas histórias e, recebi uma memória repleta de conhecimento e sabedoria.

Perguntei a ele o que o senhor se recorda do criau/curiau que gostaria de socializar.

Perguntei qual a sua maior lembrança do seu lugar?

- bom a minha preocupação hoje, é que eu to vendo que o criau mudou, a “distensão” do que eu vir de quando eu nasci né, quando eu nasci eu vivi num ambiente de 12 famílias, e essas se presenteavam de uma para outra, e hoje nós temos pra mais de mil casas e ninguém da presente um para o outro.

Então o que um tinha o outro também tinha, o que um “cumia tudo cumia’, infeliz era daquele que não ia...tudo era servido de meia e quarta e litro, e quando era o peixe o “cuzido” botava os pedaços dependendo da quantia de quantos morava na casa.

E não... todo mundo era servido e todo mundo se alimentava. Muita amizade um para o outro.

Quem era essas 12 famílias que o senhor se refere?

- tudo era tio sobrinho, irmão, então a gente se casava na família porque nós casava primo com primo na época, pra não ter herança pra de fora e hoje nós “temos’ tendo as heranças mas pros de fora, pois estão casando mas com os de fora que os de dentro do curiau.

Isso é uma preocupação para o senhor?

- essa que é mas a minha preocupação porquê nós que já nascemos a “zanos” atrás, que vivemos num tempo bom, pra nós é um lucro e um prejuízo para os que estão nascendo, pois estão casando com gente estranhas não se sabe nem da onde e o que eles são lá e daqui não agente sabia que era tudo da mesma região, não eram tanto discriminadores e nem “humilhador” como muito acontece aqui, pois dentro da nossa família, ainda hoje eu vejo pessoas nossas que casaram e perderam o “clima” de morarem com a própria família que se deixaram, então a lei acusou que ele saísse de casa e deixasse a mulher na casa e a mulher não é daqui ou seja, ele fora e a mulher ficou na casa. Então essa e minha maior preocupação.

E as lendas das coisas que aconteciam aqui?

- já mudou nos tinha uma tal de pelada do baixo, “izistia “aqui, nos tinha um tal de carrega, um tal de bode aqui, tinha a picada do rola que aparecia e tinha o torrão das cobras, isso quando nós ia estudar no criau de fora; um ano estudava LÁ OUTRO ESTUDAVA AQUI, e quando a gente passava nesse torrão das cobras, cada um dia tinha uma cobra de uma qualidade num buraco lá, mas elas passavam e a gente passava e elas não mexiam com agente.

E na picada do rola tinha um “tamburão” (camburão) que rolava a gente ia ver não via nada. Havia só o barulho. E esse bode ficava pulando de um lado para o outro, mas não dava “ação” de combater com ele. Sabia que era um bode pôr dar o pitiú, não tinha como pegar ele, e ele ficava lá e nós aqui.

E a pelada quando a gente ia pro baixo tomar banho, chegava numa época dessa, que agente chegava da aula no fim da tarde, quando chegava da roça uma 11 horas, quando chegava lá, de longe tinha uma vara tremendo, e via aquela cabeça “luzindo”, a “mulecada” gritava “lastar” ela quando a gente se jogava n’agua, chegava lá não tinha ninguém, não via a tal de pelada do baixo.

E o lago parece que ele está mais seco, pois antes ele vinha até próximo a cede?

É...o “desmantelo” o deszelo foi que acabou com as coisas tudo muda, naquela época existia um dono lá, e quando esse dono se mudou, depois que chegou a iluminação que pois lá só vivia no escuro, eu acho que ele se mudou e ficou sem alguém que tomasse conta.


“Foi uma grande satisfação dividir um pouco dessa lembranças do seu roldão e o Criaú/Curiau de suas lembranças”.



ouvi-lo é o meu dever

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