Emendas parlamentar como extrategia para livra temer do processo.
Temer libera R$ 1 bilhão em emendas durante crise
Tática de Temer para estancar crise política foi a mesma utilizada por Dilma Rousseff para tentar barrar impeachment
Publicado em 16/06/2017, às 09h43
Planalto nega aumento dos repasses após delação da JBS
Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil
Estadão Conteúdo
Desde que a delação do Grupo J&F -
controlador da JBS - veio à tona, em 17 de maio, o governo liberou
quase R$ 1 bilhão em emendas parlamentares, a maior parte para a sua
base aliada no Congresso. O repasse desse volume de recursos a deputados
e senadores já estava previsto e a liberação coincidiu com o
agravamento da crise política.
Para arregimentar apoio à reforma da Previdência - projeto
considerado crucial pelo Planalto -, a Secretaria de Governo da
Presidência, responsável pela articulação com o Congresso, já tinha
pedido a antecipação do pagamento de R$ 1,8 bilhão em emendas
parlamentares para conseguir reverter o placar desfavorável ao projeto
na Câmara. A previsão era de desembolso de R$ 1 bilhão em abril e R$ 800
milhões em maio.
Levantamento feito por consultores do Orçamento no Congresso, a
pedido do Estado, mostra, porém, que a liberação de verbas de emendas
ocorreu de fato no período posterior à delação premiada dos irmãos
Joesley e Wesley Batista.
Com base na delação, o presidente Michel Temer passou a ser
investigado em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes
de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa. A
Procuradoria-Geral da República (PGR) se prepara para apresentar
denúncia contra o presidente. O STF só poderá julgar a acusação formal
caso obtenha uma autorização de 2/3 da Câmara, ou 342 deputados.
Segundo o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, uma
nova rodada de pagamentos será feita até o fim do mês. No ano, estão
previstos R$ 6,3 bilhões no Orçamento para emendas parlamentares. Para o
Planalto, a preservação da base de apoio no Congresso e a manutenção da
agenda de reformas são fundamentais para que a gestão Temer supere a
sua mais aguda crise.
Imbassahy negou que o aumento dos repasses tenha relação com a
delação da J&F. "Não tem nenhuma orientação para pagar nem mais nem
menos", disse. De acordo com ele, a liberação de recursos está seguindo
"uma sequência normal". "As emendas são impositivas e, portanto, com
execução obrigatória. À medida que os ministérios informam para a
secretaria que um projeto já foi fiscalizado, estamos liberando o
pagamento, dentro do limite orçamentário."
O levantamento foi feito com base no Siafi - sistema que acompanha as
contas do governo em tempo real. Entre 17 de maio e 13 de junho foram
liberados R$ 486,4 milhões em restos a pagar (valores de outros anos) e
mais R$ 467,5 milhões empenhados (compromissos de pagamentos), somando
um total de R$ 953,6 milhões em recursos para deputados e senadores em
quase um mês, metade do que foi autorizado desde o início deste ano.
Neste último mês, 94% das emendas parlamentares foram empenhadas e um
terço das emendas que tinham sido autorizadas em exercícios anteriores
foi quitado.
Segundo os consultores do Congresso, a liberação de recursos deve se
intensificar nas próximas semanas. Cada parlamentar pode apresentar até
25 emendas. O pagamento desses valores é visto como moeda de troca entre
o Planalto e o Legislativo, e costuma ser usado pelo governo para
garantir apoio no Congresso. O dinheiro é o principal recurso destinado
aos parlamentares para que eles possam viabilizar obras e benfeitorias
em seus redutos eleitorais.
Impeachment
No ano passado, a ex-presidente Dilma Rousseff usou do mesmo
artifício para tentar barrar o impeachment no Congresso. Somente nos
primeiros dias de maio, ela empenhou R$ 1,4 bilhão em emendas para
deputados e senadores, quase a totalidade do que havia liberado no
acumulado de 2016 até maio. O afastamento de Dilma, porém, foi aprovado
pelos senadores em 12 de maio. Ao assumir a Presidência, Temer continuou
com o ritmo acelerado de liberação de verbas e empenhou outros R$ 2,4
bilhões no restante de maio.
A maior parte dos recursos liberados até agora tem como foco
deputados e senadores da base do governo. Os dez parlamentares que
encabeçam o ranking das emendas empenhadas são do DEM, PMDB, PP e PR,
todos partidos aliados de Temer. O deputado que recebeu o maior valor
foi Marco Rogério (DEM-RO), cotado a relator da provável denúncia contra
o peemedebista e relator do pedido de cassação de Eduardo Cunha.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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