Venina Francisca da Trindade ou “Tia Veca”






 Quem foi Venina Francisca da Trindade ou “Tia Veca”, como era chamada carinhosamente por seus amigos de trabalho.

Após o falecimento de sua mãe, a senhora Benedita, o seu pai Norberto Tavares juntou-se a uma outra mulher, a qual foi responsável pela criação dos filhos – que eram seis (2 homens e 4 mulheres). Venina era caçula.

Venina e seus irmãos e seus pais eram macapaenses, residiam na rua Presidente Vargas entre Cândido Mendes e Independência. Quando foram morar com a madrasta passaram a residir no Largo dos Inocentes, por trás da Igreja São José. Depois de crescidos, já com a morte de seu pai, cada filho, digo cada irmão procurou seu rumo, constituindo suas famílias. 


A Venina se juntou com o Benedito Satu, este da Comunidade de Maruanum, deste relacionamento nasceu sua filha Maria Tavares de Araújo. Quando o relacionamento desgastou Venina retornou a Macapá com Maria Tavares ainda bebê. Aos 8 anos de idade, Maria Tavares foi morar com sua tia, que também chamava-se Maria Tavares. Foi nesse período que Venina passou a morar no bairro do Laguinho, lavando roupa pra fora, trabalhando na roça, fazendo farinha. Foi nesta época que a Venina passou a morar com um dos filhos de Julião Ramos. Neste período havia show de calouros pelos bairros da cidade uma vez por semana, uma dessas vezes Venina participou e se deu muito bem. Na casa onde ela morava nos finais de semana eram realizados bailes dançantes.


Anos depois, Venina passou a se envolver com mais intensidade com o marabaixo e o carnaval. Fez muitas amizades e através dessas amizades arranjou um emprego como auxiliar de serviços gerais, depois passou para merendeira na escola Princesa Isabel e Azevedo Costa. Anos mais tarde, ela foi requisitada para trabalhar na secretaria de educação no departamento de bolsa de estudos, mais precisamente para fazer a limpeza da sala e fazer o cafezinho e servir aos funcionários.


Venina estava cada vez mais comprometida com o marabaixo, quando chegava a época do marabaixo, ela era a única pessoa que saía com o “pires na mão” para pedir ajuda pelos órgãos públicos com o intuito de angariar recursos para adquirir fogos, carne, verduras e cachaça, etc... para a realização do marabaixo. Ela era chamada na secretaria de finanças do governo do estado para receber o valor da contribuição do governo.

Venina deixou seu companheiro e passou a morar com suas irmãs e filha. Ainda no bairro do Laguinho, elas faziam merenda para vender aos domingos e quando aconteciam eventos na Praça da Bandeira e quando havia bailes na sede do Macapá Esporte Clube. Ela fazia isso para ajudar sua irmã mais velha, pois a mesma não tinha emprego.

Resultado de imagem para venina do marabaixo

Mulher negra, forte, de fibra, resistência incomum. Era uma mulher que sabia como conquistar amizade. De uma voz sem par, tinha o dom do improviso, das rimas dos “ladrões” de marabaixo.

A primeira vez que o senador Sarney esteve no Amapá, como então presidente da república, aconteceu uma apresentação de marabaixo em que Venina jogou o ladrão “ o presidente Sarney ao Amapá chegou, veio trazer a notícia que a inflação baixou”. Quando Sarney retornou à Brasília, Sarney agradeceu em cadeia nacional os versos do marabaixo que ouviu de Venina, sendo homenageada com uma matéria jornalística no Jornal Nacional.


Mulher carismática, Venina era querida por muitos e invejada por outras. Foi uma mestra da cultura do marabaixo, batuque e do carnaval – baiana de Boêmios do Laguinho. Além disso, Venina, juntamente com outros baluartes da cultura afroamapaense como Tia Chiquinha, Sacaca, entre outros, viajou a outros estados do país para divulgar a cultura do Marabaixo.


Esse é um resumo da vida de Venina Francisca da Trindade, nascida no dia 17 de dezembro de 1923 e falecida no dia 03 de julho de 1998 com 74 anos de idade.


Texto Jorge alberto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UM DIA 16/06 E OUTRO NO DIA 16/7, EXATOS UM MÊS ACORDAMOS COM A NOTÍCIA DO MESMO FATO: A MORTE DE UM JOVEM PROMISSOR.

No Amapá, Deputada foi vítima de intolerância religiosa e preconceito racial

A PRESENÇA NEGRA NO AMAPÁ E A QUESTÃO ABOLICIONISTA