A história que não foi contada.
embarque no navio tumbeiro
A história da
escravidão no Brasil, ou desde os seus ritos iniciais, nos revela um personagem
coadjuvante que, ao longo de toda essa odisseia torna-se personagem principal.
Tudo transmitido na oralidade de forma subliminar não (sei se) pensado,
planejado.
O continente
africano, cenário da extração forçada dos guerreiros, rainhas e reis, ao
migrarem por águas transoceânicas eram obrigados a circundar a tal árvore do
esquecimento - para que se esquecesse de sua terra, de sua vida livre; foi o
primeiro passo de uma construção da liberdade. No embarque varias etnias
partindo de um mesmo continente que aos montes no porão do navio tumbeiro,
tentam se comunicar, articular. “Segundo Eduardo Fonseca Júnior no livro
“Quilombo do Zumbi a História que não foi Contada”, um translado torturante,
sendo a carga de tamanha importância ao desenvolvimento colonial resolveram
desentorpecer; “dar movimento ao corpo, assim para “afugentar a dor do banzo”.
negro dançando para desentorpecer a dor do banzo.
Árvore do esquecimento, dor do banzo, açoite,
corpos mar- a- baixo, remadas, tambores... sem perceber eles estavam dando ao
povo negro, armas usadas rumo a libertação; o tambor! e a dança. Nos navios
tumbeiros, movimentados por velas e em águas calmas as remadas é que davam
movimento e esse, por sua vez, eram os negros que tinham essa incumbência,
remadas, tambores, cantos de prantos e dor, comunicação... Antes de vim ao
convés aos montes, juntos aos “seus” a despedida no meio a fedentina de fezes,
urinas, corpos mortos, a despedida dos corpos que foram ao mar, o tambor, o
canto, o pranto, a dor a comunicação.
Remando o barco do colonizador
Ao longo dessa trans-migração, o povo negro, veio agregando valor a tudo e a todas as coisas ao
qual foi um mero observador, nas senzalas o açoite, o grilhão, o negro de
ganho, no navio negreiro e dentro da senzala apanhando,trabalhando sempre
acompanhado do canto e da dança. Laurentino Gomes relata a figura dos tigres
que eram responsáveis pelas coletas das fezes; não é que o escravo ate na hora
de coletar as fezes dançava e cantava:
negro tigre jogando as fezes no mar
“A
urina e as fezes dos moradores, recolhidas
durante a noite, eram transportadas durante a noite, eram transportadas e
pela manhã para serem despejadas no mar por escravos que carregam grandes tonéis de
esgotos nas costas, durante o percurso, parte conteúdo désseis tonéis, repleto
de amônia e uréia, caia sobre a pele e, com o passar do tempo, deixava listras
brancas sobre suas costas negras. Por isso esses escravos eram conhecidos como
tigres”. (Gomes, Laurentino p144).
Negro canta e dança na lavoura
A mesma coisa
era repetida nas lavouras com trabalho do roçado ao fim do dia quando se vinham
pelos caminhos se juntavam os sacos equilibrados na cabeça, negros com a maior
parte do corpo exposto e definidos com a marca do tempo; na frente um negrinho
conduzia o bando com um chocalho cantando e dançando ditando o ritmo aos outros
e a cada passo a melancólica cantiga são valores que são atribuídos a tudo,
deixando mensagem aos menores os erês. Essa é a moldura de um quadro encontrado
pela família real no desembarque em 1808, e nesse desembarque o negro põe
valores e caracteriza a forma do carnaval brasileiro uma maneira bem peculiar
de protestar.
chegada da família real
primeiros gritos de carnaval no Brasil colônia
Nesse processo chegamos à colonização da Amazônia quase no fim,
já fizemos parte do trafico interno aquele que remanejava os negros ora estavam
no Rio de Janeiro, quantos não foram os que passaram pela Bahia de todos os
santos? Assim foram sendo esquecidos pelos campos do Laguinho, Favela, e varias
comunidades existentes em todo o hoje Estado do Amapá, e tudo teve o seu inicio
em torno do forte construído pelo próprio negro que em pleno século XXI busca
identidade, uma referencia de suas raízes, árvore genealógica do povo
Amapaense, Ou seja, para que uma cultura se fortaleça não se pode implantar uma
cultura num lugar que não tem afinidade, mesmo sendo comunidades próximas umas
as outras a diferença é muito grande. Nesse trabalho busca-se a essência do que
o tempo e as interferes tratou de acabar as tradições que norteia um povo sem o
esquecimento de suas origem.

Nossa pesquisa se desenvolveu nas referidas
comunidades com moradores antigos na faixa etária de 60 a 80 anos sem o
conhecimento do objeto podemos formar um perfil de se encontrar onde o povo se
perdeu, nas visitas anunciadas identificamos como as festas de santos
aconteceram e como e porque outras famílias adotaram outros santos. As
comunidades visitadas são movidas pela fé, registramos o caso de algumas
comunidades que 80% deixaram de viver na sua cultura vivendo outra que o aliena
o convencendo na maioria das vezes na venda de suas terras o afastando cada vez
mais de suas tradições e costumes (proselitismo religioso). A lei 10.639/93 se
justifica pela história e cultura do negro assim, com o conhecimento a
aplicação torna-se viável, acontece que antes de tudo temos de fazer o próprio
protagonista descobrir a sua própria história esse documento é apenas uma parte
do nosso objetivo.

João Ataíde (Mandela), licenciado em história,
pós graduado em história indígena e africana.
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